terça-feira, 12 de novembro de 2013

"O Oceano no Fim do Caminho" - Neil Gaiman

Não é incomum dentro do universo da literatura e do cinema, nos depararmos com um personagem que ao regressar por um motivo qualquer para a região onde passou a infância e a adolescência, acabe se redescobrindo, ou ganhe forças para redefinir a vida. Verdade seja dita, esse é um expediente bastante utilizado. É tendo esse recurso como ponto de origem que o inglês Neil Gaiman partiu para escrever seu novo romance, depois de oito anos sem ter algum projeto deste tipo. O fruto desse retorno é “O Oceano no Fim do Caminho”.

Lançado aqui no país esse ano pela Editora Intrínseca na mesma data do mercado norte-americano, o livro tem 208 páginas e conta com a tradução de Renata Pettengill. Nele, o renomado criador de “Sandman” no final dos anos 80 e de “Deuses Americanos” de 2001, entra mais uma vez no mundo que conhece tão bem, que é o da fantasia usando a realidade como muleta para acontecer e se desenvolver. Quem já conhece algum trabalho do autor, seja nos quadrinhos, seja em prosa, não irá se surpreender com a ambientação.

O personagem principal do livro é atraído para a cidade natal por causa de um funeral. Essa cidade fica na pacata Sussex, região sudeste da Inglaterra. Sem se interessar muito pelo acontecimento em si, esse cara de meia idade começa a dirigir a esmo para aliviar a mente e meio sem querer, meio conscientemente, acaba indo rumo a uma casa que mudou praticamente o caminho da vida e agregou situações que o levaram a ter sucesso na carreira, mesmo que atualmente ele não lembre muita coisa sobre esses tempos idos.

Chegando a uma antiga fazenda encontra uma senhora, que vai fazer com que as lembranças da infância e de episódios fantásticos voltem à tona e sejam narrados para o leitor. O fato que desencadeou tais episódios foi a morte de um minerador de Opala dentro do carro do pai, e é esse ponto que correlaciona a cadeia de eventos que virá a surgir. Contrapondo encantamentos com a existência real, Neil Gaiman escreve um livro sobre como a infância é definidora para a formação da pessoa, e como mesmo sem perceber, essa infância fará parte de toda a vida.

Com 53 anos completados há poucos dias, Gaiman é um autor que já deixou seu nome registrado na história recente da cultura pop, principalmente nos quadrinhos. Com toda uma aura lhe cercando, imprimiu características próprias e uma boa quantidade delas podem ser encontradas em “O Oceano no Fim do Caminho”, como a predileção por usar três mulheres como personagens (até o nome Hempstock vemos de novo), a briga pela aceitação de coisas que não conhecemos (como em “Livros da Magia”) e o embate entre personalidades fortes e outras em construção.

Já com adaptação cinematográfica garantida (pela produtora Playtone, do ator Tom Hanks), “O Oceano no Fim do Caminho” é um livro que até pelo seu volume é fácil de ser consumido, mas que surtirá um efeito mais acentuado em quem não está acostumado com o universo de fantasia do autor. Para aqueles que já conhecem esse universo a algum tempo, apresenta-se apenas como mais um produto em um nível de qualidade inferior ao que já foi visto antes. Neil Gaiman pode bem mais do que isso e não precisa requentar seus pratos.

Nota: 6,5

A Editora Intrínseca criou uma página especial sobre o livro. Veja aqui: http://www.intrinseca.com.br/neilgaiman

Site oficial do autor: http://www.neilgaiman.com

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